A GENTE VAMOS
Em uma conversa cotidiana, José diz
para Maria: "A gente vamos hoje e volta amanhã". A questão é: os verbos
"ir" e "voltar" estão devidamente empregados na referida frase?
Do ponto de vista gramatical não
há erro na frase, mas, na linguagem formal, não devemos usar o verbo no
plural. Por que, enfim, "A gente vamos" está correto?
A concordância se dá de palavra
para palavra ou de palavra para sentido. No primeiro caso, por exemplo, a
seguinte frase pode nos servir de modelo: "Eles disseram que José
virá".
O verbo "dizer", no plural, está
concordando com a palavra "eles", ao passo que o verbo "vir" está no
singular porque está se referindo ao substantivo "José". Conforme se vê,
temos a concordância de palavra para palavra.
Já em "O povo disse que não
aceitará mais enrolação política, de sorte que estavam dispostos a
enfrentar qualquer tentativa contrária", a conjugação verbal "estavam" -
que se refere ao substantivo "povo" - se acha no plural porque está
concordando com a ideia de pluralidade contida no referido substantivo. É
a concordância de palavra para sentido, ou, no dizer gramatical, temos
uma silepse.
Assim, do ponto de vista gramatical, não haveria erro em "A gente vamos", "A gente fomos", etc.
No entanto, como bem assinala
Evanildo Bechara, "A língua moderna impõe apenas a condição estética"
como critério para se escolher a frase a ser empregada.
Neste sentido, note que em "O
povo disse que não aceitará mais enrolação política, de sorte que
estavam dispostos a enfrentar qualquer tentativa contrária", o verbo
conjugado no plural (estavam) se acha distante do substantivo "povo",
daí a tolerância de seu emprego.
Segue-se, pois, que a construção
"A gente vamos" só é admitida em se tratando de linguagem coloquial,
seja ela em momento de representação (teatro, cinema), seja ela na vida
real. Do mesmo modo, estando o verbo distante na frase do sujeito a que
se refere, é possível o emprego da conjugação no plural.
Nenhum comentário:
Postar um comentário